Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto
A Santa Casa de Ribeirão Preto é a mais antiga instituição hospitalar da cidade, com uma trajetória de mais de 125 anos a serviço da saúde e da vida. Sua fundação remonta a 1896, quando foi registrado o estatuto da Sociedade Beneficente de Ribeirão Preto, uma associação de caridade inspirada nas Santas Casas portuguesas e voltada à construção de um hospital para atender gratuitamente quem não podia pagar por serviços de saúde.
Desde o início, a sociedade civil se mobilizou em torno do projeto, e a Câmara Municipal criou um imposto específico para arrecadar recursos que seriam transferidos à nova instituição em forma de subvenção anual.
Durante os festejos de São Sebastião, em janeiro de 1902, um grave acidente com um “morteiro” — tipo de fogo de artifício — feriu diversas pessoas, entre elas uma mulher, e acelerou a inauguração do hospital. Apesar da obra ainda inacabada, a Sociedade Beneficente abriu suas portas no dia 3 de março de 1902, por iniciativa do intendente municipal Jéferson Barretto, para atender os feridos em situação emergencial. – Informação do livro “Formação do Polo da Saúde de Ribeirão Preto – Indústrias, Instituições e Empreendedores” da Associação Engenho Cultural.
Em dezembro de 1902, chegou a Ribeirão Preto o sacerdote Padre Euclides Gomes Carneiro (1879–1945), designado para auxiliar o vigário local, Monsenhor Joaquim Antônio de Siqueira. Sensibilizado pela realidade do hospital e pela epidemia de febre amarela que assolava a cidade, Padre Euclides assumiu a presidência da Sociedade Beneficente e se dedicou à finalização das obras.
Para isso, buscou apoio junto a um dos homens mais influentes do Brasil da época: Francisco Schmidt, conhecido como o Rei do Café. Proprietário da Fazenda Monte Alegre, em Ribeirão Preto, Schmidt era um dos maiores exportadores de café do mundo e símbolo da pujança econômica da região. Com seu apoio, foi doado um montante de 30 contos de réis, valor que possibilitou a continuidade da construção do hospital.
Além disso, Padre Euclides trouxe para a instituição as Irmãs Salesianas — da Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora, fundada por São João Bosco e Santa Maria Domingas Mazzarello, na Itália. Conhecidas pelo trabalho dedicado à educação, assistência e cuidado com os vulneráveis, as religiosas passaram a atuar na Santa Casa de Ribeirão Preto oferecendo acolhimento espiritual, organização dos serviços de enfermagem, disciplina na rotina hospitalar e humanização no atendimento. Elas permaneceram na instituição até 1938.
Em 1910, a instituição passou a se chamar oficialmente Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, tendo Padre Euclides como administrador até 1915. Em seguida, o médico Dr. João Leopoldo da Rocha Fragoso assumiu a provedoria e deu sequência à ampliação da infraestrutura hospitalar.
Em 1919, foi finalizada a construção do pavilhão de residência das Irmãs Salesianas. Em 1938, essas religiosas foram substituídas pelas Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, congregação fundada por Madre Clélia Merloni, cuja missão é promover o amor e a misericórdia por meio de ações na saúde, educação e assistência social.
Em 1923, foi inaugurado o Pavilhão Pereira Barreto, projetado pelo engenheiro Antônio Soares Romeo, com foco no aprimoramento do atendimento hospitalar.
Durante esse período de consolidação, atuaram como médicos na Santa Casa importantes nomes da medicina ribeirão-pretana: Luiz Pereira Barreto, Antônio Rodrigues Guião, Rocha Fragoso, Abílio Sampaio, Luiz Leite Lopes, Edgardo Cajado e Antônio Gouveia. Esses profissionais ajudaram a estruturar os primeiros serviços médicos da instituição e foram essenciais para o avanço da medicina na cidade.
Em 1935, foi fundada a Escola de Enfermagem da Santa Casa, idealizada pelo Dr. Waldemar Rosa dos Santos, e no ano seguinte, criada a Associação Médica, responsável pela articulação dos médicos da instituição.
Na década de 1930 e início de 1940, a Santa Casa já contava com 12 pavilhões, incluindo enfermarias, quartos e apartamentos, além de ter recebido o Abrigo Ana Diaderichsen, doado por Antônio Diaderichsen.
Durante os anos 1960, sob a provedoria do Professor Antonio Luiz Rodrigues da Silva, foi inaugurado o Pavilhão Edgard Cajado, modernizando significativamente a arquitetura e o funcionamento do hospital. Nessa época, a Santa Casa contava com cerca de 90 médicos, 15 sócios beneméritos e um conjunto robusto de serviços especializados, como:
Em 1989, após décadas de atuação, as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus se retiraram da instituição por decisão da Irmã Provincial, encerrando um ciclo de mais de 80 anos de colaboração religiosa direta na Santa Casa.
Nos anos 1990, a Santa Casa recebeu o Selo de Qualidade da Associação Paulista de Medicina (1993) e expandiu seu papel como hospital-escola, firmando convênios com universidades públicas e privadas. Em 1995, o economista Eduardo Lopes Louzada assumiu a provedoria, sendo sucedido em 1999 pelo Dr. Dácio Eduardo Leandro Campos, que ficou no cargo até 2009. Durante sua gestão:
A partir de 2004, a Santa Casa também conquistou o credenciamento em programas de residência médica, sendo hoje referência em 15 especialidades.
Em 2010, com o provedor Amauri Elias Calil, teve início uma fase de revitalização estrutural: reforma da unidade de urgência e emergência e ambulatório de ortopedia, modernização da recepção e fachada, nova jardinagem, ampliação de ambientes e aquisição de equipamentos modernos.
Desde janeiro de 2022, sob a gestão do provedor Fernando Toro, a Santa Casa vive um novo ciclo marcado por modernização, expansão e qualificação assistencial. Entre os principais avanços deste período, destacam-se:
Atualmente, a Santa Casa de Ribeirão Preto conta com cerca de 300 leitos, 500 médicos credenciados — sendo 300 médicos ativos no corpo clínico — distribuídos em 45 especialidades, incluindo 80 mestres e doutores. A instituição é referência em ensino, com mais de 200 médicos residentes e especializandos (sendo 73 vagas para R1 e 197 para R1 a R5), além de 600 alunos de Medicina em estágio supervisionado e 300 estudantes de cursos da área da saúde, como Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, entre outros. O hospital possui 1.250 colaboradores diretos e mais de 300 profissionais terceirizados, totalizando uma equipe robusta e multiprofissional.
Sua estrutura física inclui 11 salas cirúrgicas e um centro obstétrico especializado em partos de alto risco, com uma média de 200 partos por mês. A gestão de leitos está organizada entre enfermarias SUS, enfermarias para convênios, unidades intensivas e o setor de urgência e emergência, incluindo 8 leitos de politrauma e 14 de observação; enfermarias como Pereira Barreto (12 leitos), Neurologia (11), EIC A (24), EIC B (24), Augusto Bianchi (34), Pediatria SUS (12) e Alojamento Conjunto (14); enfermarias para convênios como Edgar Cajado (35 leitos), Tinoco Cabral (27), Santa Casa Saúde (15) e Pediatria Convênios (8); além das unidades intensivas, compostas por UTI Cardiológica (13 leitos), CTI I (10), CTI II (9), UTI Neonatal (11) e Recuperação (11 leitos).
A Santa Casa também conta com um Centro de Diagnóstico por Imagem Avançado, serviços de alta complexidade e uma operadora própria de saúde — o Santa Casa Saúde Ribeirão — com mais de 45 mil beneficiários. A instituição é reconhecida pelo selo IHAC (Iniciativa Hospital Amigo da Criança), concedido pelo Ministério da Saúde e pelo UNICEF, por suas práticas de incentivo ao aleitamento materno e atenção humanizada ao parto e nascimento. Em 2025, conquistou a Acreditação Nível 2 da Organização Nacional de Acreditação (ONA), validando seu compromisso com a segurança do paciente, a gestão integrada e a qualidade assistencial.
A Santa Casa de Ribeirão Preto atua como hospital de retaguarda para os 26 municípios que compõem o Departamento Regional de Saúde XIII (DRS XIII), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Essa divisão inclui cidades como Sertãozinho, Batatais, Monte Alto, Jaboticabal, Santa Rosa de Viterbo, Altinópolis, entre outras, e sua articulação é feita por meio do Sistema SIRESP (antiga CROSS), que regula os atendimentos ambulatoriais, hospitalares e de urgência de forma informatizada, em âmbito estadual e municipal.
As médias mensais de atendimento da Santa Casa reforçam sua impacto para toda a região: aproximadamente 12.000 atendimentos ambulatoriais, 1.400 internações, 1.200 cirurgias e mais de 7.500 atendimentos na Unidade de Urgência e Emergência.